segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Você sabia?


Voce sabia que Charles Gavin praticamente lançou a banda "Golpe de Estado" para o Brasil? É verdade confira esta entrevista de Hélcio Aguirra guitarrista da banda em 1987 para a Revista Roadie Crew:

Entrevistas e Artigos

Especial 1987 - Hélcio Aguirra (GOLPE DE ESTADO) - Dezembro/07







SEM FORÇAR A BARRA...

Por Ricardo Batalha

O grupo paulistano Golpe de Estado, que surgiu em 1985, vivia uma fase de transição. Após o lançamento do disco de estréia, Golpe de Estado (1986, Baratos Afins), Catalau (vocal), Nelson Brito (baixo), Hélcio Aguirra (guitarra) e Paulo Zinner (bateria) estavam realizando shows e, ao mesmo tempo, preparando seu segundo disco, Forçando A Barra (Baratos Afins), que saiu em 1988 e seria fundamental para elevar o padrão da banda rumo ao estrelato. Confira, nas palavras de Hélcio Aguirra, como estava o Golpe vinte anos atrás, em entrevista feita como parte do "Especial 1987" (publicado na edição #107).

Fale um pouco da trajetória da banda no início. Por que você deixou o Harppia e montou o Golpe de Estado?

Hélcio Aguirra:
Eu tinha o Via Láctea e após a passagem de alguns vocalistas chegou o Jack Santiago. Com a entrada dele, e por seu estilo de vocal de Rock, achamos legal mudar o nome e fazer algo mais pesado. O nome vem do ser mitológico que com dois "P" na grafia o personalizaria mais. Acho que chegar ao álbum A Ferro e Fogo, fazer shows com a bolacha existindo foi 'du cacete', assim como pintar nas primeiras revistas e fanzines de Heavy Metal do Brasil. Nos shows o público cantando várias músicas; Salém a Cidade das Bruxas sendo executada na programação da 89FM, toda mídia e tudo que rolou foi muito bom. Eu saí do Harppia assim que a banda começou a mudar de formação. Paralelo a isso pintou o convite do Zinner para eu fazer um teste para a banda que seria o próprio Golpe no futuro. Sem trocadilhos... O Catalau, o Nelson Brito e o Zinner já montavam algumas músicas (Libertação Feminina, Pra Conferir e Society) ; eu apresentei umas (Aqui na Terra, Underground) e, para engordar o repertório, colocamos alguns covers (Iron Maiden, David Bowie, Whitesnake, Deep Purple, etc.). Fomos para o Estúdio (Batata, Odir e PA), onde criamos outras novas músicas (Sem ser Vulgar) e ensaiamos o repertório todo. Lá frequentavam bandas como Inocentes, Titãs, Musak, Ira. Gravamos uma Demo e o Charles Gavin levou a fita na 89FM e a Rádio tocou Olhos de Guerra. Começamos a tocar em alguns bares como Black Jack, os do Bixiga e nos teatros da Prefeitura. Em um desses shows, no Teatro Artur Azevedo na Moóca, convidei o Luizinho Calanca da Baratos Afins (produtor do Harppia), para ver a banda que formamos: Golpe de Estado. Após o show, no camarim, o Luiz mostrou ter curtido muito a performance e a proposta diferente que a banda tinha, e nos convidou para gravar um LP pela Baratos.

Como estava o Golpe de Estado após o lançamento do disco de estréia Golpe de Estado (1986)? Além dos shows de promoção, a banda já estava compondo para o Forçando a Barra (1988)...

Hélico:
A turnê do primeiro disco começou em grande estilo, em 15 de novembro, com um panfleto convidando o público para um ato cívico do Rock e conhecer a banda Golpe de Estado. A Rádio Brasil 2000, através do Osmar Santos, foi a primeira a tocar e a 97FM, com o JR, também começou a tocar assim que recebeu o disco. Participamos do programa Boca Livre da TV Cultura, que teve boa repercurssão. Era um momento de crescimento do Hard e Heavy Rock brasileiro. Nessa turnê, nos ensaios, começaram a pintar novas músicas (Cobra Criada, Terra de Ninguém, Onde Há Fumaça Há fogo, Noite de Balada, etc.) e gradualmente fomos criando e montando o Forçando a Barra, sendo que algumas letras foram terminadas no Estúdio Guidon na gravação do disco. No disco participam convidados como Bocato, Faria, André Christovam, Arnaldo Antunes, Branco Mello e Fernando 'The Crow'.

Como foi a receptividade do disco?

Hélcio:
Foi muito boa. À época do primeiro 'Rock In Rio', 90% das bandas eram pesadas e havia um interesse em saber quais eram as que tocavam por aqui esse estilo em português.

Como foram os shows de promoção e divulgação?

Hélcio: Foram sempre em um crescente de público. Fizemos shows ao ar livre na inauguração da pista de skate em São Bernardo, "Rock in Rua" em Santo André, Praça do Rock em São Paulo, Festa de Rádio 97fm, entrevistas ao vivo nas rádios, shows no interior.

Conte como estava a cena nacional há vinte anos?

Hélcio: Nós fazíamos parte do pacote de bandas independentes que estavam em plena evolução e tomando espaço na mídia. A Baratos Afins, com o carisma do Luiz, tinha uma certa atenção por parte de muitos jornalistas e críticos de música, além de amigos que freqüentavam a loja e ficavam sabendo das novidades.

Conte um pouco os fãs da nova geração, que não viveram aquela época, quais bandas vocês tinham ligação, quais casas de shows, bares e eventos havia naquela fase e como era a cena para vocês do Golpe de Estado.

Hélcio:
Uma das coisas legais do Golpe é que nós sempre tocamos com bandas de variados estilos, como Platina, Abutre, Centúrias, Náu, Controle, que eram Hard e Heavy; além das mais Pop, como, Capital Inicial, Ira, Ultraje a Rigor, Plebe Rude, Biquíni Cavadão, Barão Vermelho etc.; e Punks, como Inocentes, 365, Ratos de Porão... Tocamos em lugares como Aramaçan, Clube Primeiro de Maio, Clube Ipê, USP, Projeto SP, Ledslay, Fofinho, Teatro Cacilda Becker, etc.

O que mais você sente saudades daqueles tempos, no final dos anos 80?

Hélcio:
Como eu disse: tudo foi legal, tudo dá boa saudades, mas talvez uma coisa que eu sinta falta é de casas de show de médio porte em Sampa, como Dama Xoc, Aeroanta, Projeto SP e outros lugares onde fizemos apresentações memoráveis, até mesmo pelas condições de palco, som e luz.

Parece que hoje em dia está havendo um resgate às raízes do Metal/Hard Rock em português. Como você analisa isto?

Hélcio:
É ótimo para manter essa cultura viva e mostrar um pouco de onde vieram certas tendências do Rock que hoje são exploradas pelas novas bandas brasileiras. E para que muitos saibam que antes deles outros com muito esforço, de uma forma ou de outra, já haviam cravado sua bandeirinha lá.

Nos anos 80 era natural o músico ser autodidata, mas atualmente a grande maioria estuda em escolas de música e busca a virtuose a todo custo. Como você analisaria isso?

Hélcio:
A nossa maior escola foram os discos. As partes mais difíceis da música, como o solo, eu baixava a rotação do toca discos para tirar melhor. Também corria atrás das caríssimas revistas importadas, tipo Guitar Player, Guitar Word, Young Guitar e, ao poucos, fui aprendendo tablatura. Hoje se tem tudo na Internet e nas revistas nacionais do gênero. Com menos recursos dá a impressão que formamos músicos mais criativos e sonoros. Com relação a equipamentos, nos anos 70 e 80 ver instrumentos importados e equipamentos de ponta era quase impossível. Se por um lado era péssimo, por outro, muitos músicos buscavam alternativas para tirar um bom som do equipamento disponível, obter um timbre legal no seu instrumento.

Gostaria que você contasse para a nova geração como era atuar numa fase onde havia gente que saía de casa para ver um show de uma banda nacional muitas vezes só porque determinado músico tinha um Marshall, uma Les Paul, uma bateria Tama, pratos Zildjian... Além disso, você mesmo era famoso por fazer manutenção de amplificadores valvulados! Conte mais sobre essa parte técnica daquela época com relação as facilidades de hoje em dia.

Hélcio:
Eu sou um bom exemplo disto, pois meus primeiros amplificadores valvulados e pedais de efeito eu mesmo construía e os registros nos discos foram com eles. Sei muito bem o quanto era caro e difícil de ter um ampli ou guitarra importados. Por conhecer eletrônica faço consertos e modificações em amplificadores de muita gente, que me deu oportunidade de fazer grandes amizades. Nunca deixei de construir e montar meus próprios amplificadores e periféricos.

Deixe uma mensagem para os que não viveram os anos 80 e início dos anos 90 e os fãs da nova geração.

Hélcio:
Tudo tem seu lugar no espaço, na memória e no tempo e uma coisa, por seqüência, dá sentido à ela ou impulsiona a outra. Tanto o que pode ser bom ou ruim. Portanto, procure ouvir essa época do Rock brasileiro.

Site relacionado: http://www.golpedeestado.com.br/faclube/

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