segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Titãs lançam "Sacos Plásticos" em São Paulo










20/09 - 11:02

Titãs apostam em antigos sucessos em novo show

Augusto Gomes

Este ano, os Titãs lançaram seu 12º álbum de estúdio, Sacos Plásticos. O disco foi produzido por Rick Bonadio, o homem por trás de bandas como NX Zero e Fresno. Sua presença, sozinha, já valeu críticas à banda. E o álbum, convenhamos, realmente é fraco. Mais ainda: é o pior trabalho dos 27 anos de carreira do grupo.

A boa notícia é que, ao vivo, os Titãs estão bem melhores que em estúdio. O grupo estreou sua nova turnê neste sábado (19) no Citibank Hall, em São Paulo, fazendo uma aposta sábia: muitos sucessos antigos e poucas novidades de seu trabalho mais recente. Sem surpreender, mas com muita competência.

No palco, estavam apenas os cinco integrantes do grupo, sem músicos de apoio: Sérgio Britto, Paulo Miklos, Branco Mello, Tony Bellotto e Charles Gavin. O resultado foi um som mais cru e espontâneo. Melhor ainda: deixou bem claro que a banda, mesmo depois de quase três décadas de estrada, ainda sente prazer em tocar junta.

O repertório foi uma espécie de retrospectiva da história dos Titãs. Passou pelo pop de "Sonífera Ilha" e "Televisão" e pelo rock sujo de "Polícia" e "Lugar Nenhum", não ignorou canções de Arnaldo Antunes e Nando Reis, lembrou Marcelo Frommer em "Epitáfio" e até passou por metade das faixas de Sacos Plásticos.

A banda ainda faz um segundo show em São Paulo neste domingo (20), também no Citibank Hall. Depois, segue para Belem e Manaus.

Você sabia?


Voce sabia que Charles Gavin praticamente lançou a banda "Golpe de Estado" para o Brasil? É verdade confira esta entrevista de Hélcio Aguirra guitarrista da banda em 1987 para a Revista Roadie Crew:

Entrevistas e Artigos

Especial 1987 - Hélcio Aguirra (GOLPE DE ESTADO) - Dezembro/07







SEM FORÇAR A BARRA...

Por Ricardo Batalha

O grupo paulistano Golpe de Estado, que surgiu em 1985, vivia uma fase de transição. Após o lançamento do disco de estréia, Golpe de Estado (1986, Baratos Afins), Catalau (vocal), Nelson Brito (baixo), Hélcio Aguirra (guitarra) e Paulo Zinner (bateria) estavam realizando shows e, ao mesmo tempo, preparando seu segundo disco, Forçando A Barra (Baratos Afins), que saiu em 1988 e seria fundamental para elevar o padrão da banda rumo ao estrelato. Confira, nas palavras de Hélcio Aguirra, como estava o Golpe vinte anos atrás, em entrevista feita como parte do "Especial 1987" (publicado na edição #107).

Fale um pouco da trajetória da banda no início. Por que você deixou o Harppia e montou o Golpe de Estado?

Hélcio Aguirra:
Eu tinha o Via Láctea e após a passagem de alguns vocalistas chegou o Jack Santiago. Com a entrada dele, e por seu estilo de vocal de Rock, achamos legal mudar o nome e fazer algo mais pesado. O nome vem do ser mitológico que com dois "P" na grafia o personalizaria mais. Acho que chegar ao álbum A Ferro e Fogo, fazer shows com a bolacha existindo foi 'du cacete', assim como pintar nas primeiras revistas e fanzines de Heavy Metal do Brasil. Nos shows o público cantando várias músicas; Salém a Cidade das Bruxas sendo executada na programação da 89FM, toda mídia e tudo que rolou foi muito bom. Eu saí do Harppia assim que a banda começou a mudar de formação. Paralelo a isso pintou o convite do Zinner para eu fazer um teste para a banda que seria o próprio Golpe no futuro. Sem trocadilhos... O Catalau, o Nelson Brito e o Zinner já montavam algumas músicas (Libertação Feminina, Pra Conferir e Society) ; eu apresentei umas (Aqui na Terra, Underground) e, para engordar o repertório, colocamos alguns covers (Iron Maiden, David Bowie, Whitesnake, Deep Purple, etc.). Fomos para o Estúdio (Batata, Odir e PA), onde criamos outras novas músicas (Sem ser Vulgar) e ensaiamos o repertório todo. Lá frequentavam bandas como Inocentes, Titãs, Musak, Ira. Gravamos uma Demo e o Charles Gavin levou a fita na 89FM e a Rádio tocou Olhos de Guerra. Começamos a tocar em alguns bares como Black Jack, os do Bixiga e nos teatros da Prefeitura. Em um desses shows, no Teatro Artur Azevedo na Moóca, convidei o Luizinho Calanca da Baratos Afins (produtor do Harppia), para ver a banda que formamos: Golpe de Estado. Após o show, no camarim, o Luiz mostrou ter curtido muito a performance e a proposta diferente que a banda tinha, e nos convidou para gravar um LP pela Baratos.

Como estava o Golpe de Estado após o lançamento do disco de estréia Golpe de Estado (1986)? Além dos shows de promoção, a banda já estava compondo para o Forçando a Barra (1988)...

Hélico:
A turnê do primeiro disco começou em grande estilo, em 15 de novembro, com um panfleto convidando o público para um ato cívico do Rock e conhecer a banda Golpe de Estado. A Rádio Brasil 2000, através do Osmar Santos, foi a primeira a tocar e a 97FM, com o JR, também começou a tocar assim que recebeu o disco. Participamos do programa Boca Livre da TV Cultura, que teve boa repercurssão. Era um momento de crescimento do Hard e Heavy Rock brasileiro. Nessa turnê, nos ensaios, começaram a pintar novas músicas (Cobra Criada, Terra de Ninguém, Onde Há Fumaça Há fogo, Noite de Balada, etc.) e gradualmente fomos criando e montando o Forçando a Barra, sendo que algumas letras foram terminadas no Estúdio Guidon na gravação do disco. No disco participam convidados como Bocato, Faria, André Christovam, Arnaldo Antunes, Branco Mello e Fernando 'The Crow'.

Como foi a receptividade do disco?

Hélcio:
Foi muito boa. À época do primeiro 'Rock In Rio', 90% das bandas eram pesadas e havia um interesse em saber quais eram as que tocavam por aqui esse estilo em português.

Como foram os shows de promoção e divulgação?

Hélcio: Foram sempre em um crescente de público. Fizemos shows ao ar livre na inauguração da pista de skate em São Bernardo, "Rock in Rua" em Santo André, Praça do Rock em São Paulo, Festa de Rádio 97fm, entrevistas ao vivo nas rádios, shows no interior.

Conte como estava a cena nacional há vinte anos?

Hélcio: Nós fazíamos parte do pacote de bandas independentes que estavam em plena evolução e tomando espaço na mídia. A Baratos Afins, com o carisma do Luiz, tinha uma certa atenção por parte de muitos jornalistas e críticos de música, além de amigos que freqüentavam a loja e ficavam sabendo das novidades.

Conte um pouco os fãs da nova geração, que não viveram aquela época, quais bandas vocês tinham ligação, quais casas de shows, bares e eventos havia naquela fase e como era a cena para vocês do Golpe de Estado.

Hélcio:
Uma das coisas legais do Golpe é que nós sempre tocamos com bandas de variados estilos, como Platina, Abutre, Centúrias, Náu, Controle, que eram Hard e Heavy; além das mais Pop, como, Capital Inicial, Ira, Ultraje a Rigor, Plebe Rude, Biquíni Cavadão, Barão Vermelho etc.; e Punks, como Inocentes, 365, Ratos de Porão... Tocamos em lugares como Aramaçan, Clube Primeiro de Maio, Clube Ipê, USP, Projeto SP, Ledslay, Fofinho, Teatro Cacilda Becker, etc.

O que mais você sente saudades daqueles tempos, no final dos anos 80?

Hélcio:
Como eu disse: tudo foi legal, tudo dá boa saudades, mas talvez uma coisa que eu sinta falta é de casas de show de médio porte em Sampa, como Dama Xoc, Aeroanta, Projeto SP e outros lugares onde fizemos apresentações memoráveis, até mesmo pelas condições de palco, som e luz.

Parece que hoje em dia está havendo um resgate às raízes do Metal/Hard Rock em português. Como você analisa isto?

Hélcio:
É ótimo para manter essa cultura viva e mostrar um pouco de onde vieram certas tendências do Rock que hoje são exploradas pelas novas bandas brasileiras. E para que muitos saibam que antes deles outros com muito esforço, de uma forma ou de outra, já haviam cravado sua bandeirinha lá.

Nos anos 80 era natural o músico ser autodidata, mas atualmente a grande maioria estuda em escolas de música e busca a virtuose a todo custo. Como você analisaria isso?

Hélcio:
A nossa maior escola foram os discos. As partes mais difíceis da música, como o solo, eu baixava a rotação do toca discos para tirar melhor. Também corria atrás das caríssimas revistas importadas, tipo Guitar Player, Guitar Word, Young Guitar e, ao poucos, fui aprendendo tablatura. Hoje se tem tudo na Internet e nas revistas nacionais do gênero. Com menos recursos dá a impressão que formamos músicos mais criativos e sonoros. Com relação a equipamentos, nos anos 70 e 80 ver instrumentos importados e equipamentos de ponta era quase impossível. Se por um lado era péssimo, por outro, muitos músicos buscavam alternativas para tirar um bom som do equipamento disponível, obter um timbre legal no seu instrumento.

Gostaria que você contasse para a nova geração como era atuar numa fase onde havia gente que saía de casa para ver um show de uma banda nacional muitas vezes só porque determinado músico tinha um Marshall, uma Les Paul, uma bateria Tama, pratos Zildjian... Além disso, você mesmo era famoso por fazer manutenção de amplificadores valvulados! Conte mais sobre essa parte técnica daquela época com relação as facilidades de hoje em dia.

Hélcio:
Eu sou um bom exemplo disto, pois meus primeiros amplificadores valvulados e pedais de efeito eu mesmo construía e os registros nos discos foram com eles. Sei muito bem o quanto era caro e difícil de ter um ampli ou guitarra importados. Por conhecer eletrônica faço consertos e modificações em amplificadores de muita gente, que me deu oportunidade de fazer grandes amizades. Nunca deixei de construir e montar meus próprios amplificadores e periféricos.

Deixe uma mensagem para os que não viveram os anos 80 e início dos anos 90 e os fãs da nova geração.

Hélcio:
Tudo tem seu lugar no espaço, na memória e no tempo e uma coisa, por seqüência, dá sentido à ela ou impulsiona a outra. Tanto o que pode ser bom ou ruim. Portanto, procure ouvir essa época do Rock brasileiro.

Site relacionado: http://www.golpedeestado.com.br/faclube/

Bandas que tiveram Charle Gavin


Gavin estreou na banda Zero Hora e passou pela Santa Gang e Zona Franca antes de tocar na Jetsons, onde conheceu seus futuros companheiros titãs, Branco Mello e Ciro Pessoa. Com o último, ainda tocou no Cabine C antes de ganhar notoriedade no circuito alternativo paulistano como integrante do Ira!. Foi no final de 1984, quando dava o ritmo nas canções do RPM de Paulo Ricardo, que o músico foi convidado pelos Titãs para tomar o lugar deixado por André Jung. O baterista estreou na banda no início de 1985, quando entrariam em estúdio para gravar seu segundo disco, Televisão.

Entrevista: Charles Gavin, dos Titãs, fala sobre vinil


Entrevista: Charles Gavin, dos Titãs, fala sobre vinil

O Viva o Vinil! entrevistou Charles Gavin, baterista dos Titãs, pesquisador musical e um dos maiores entusiastas da cultura do vinil no Brasil.

Além de ser fã dos bolachões, Gavin apresenta o programa O Som do Vinil, no Canal Brasil, que resgata, através de histórias envolvendo um determinado LP, capítulos importantes da música brasileira.

Aqui no estúdio da MTV, o bate papo estava tão bom que quase atrasamos a presença do baterista no programa Acesso MTV - onde ele se apresentou divulgando o mais recente disco dos Titãs, Sacos Plásticos (2009).

Leia!

Viva o Vinil! - O vinil voltou mesmo à moda?
Charles Gavin (baterista dos Titãs) - Pra mim nunca saiu de moda, eu tenho uma coleção enorme de vinis e ela aumenta a cada mês. Não me desfaço dela nunca! Hoje o interesse geral pelo vinil voltou em parte pelo desgaste da mídia digital, que é o CD. Ele até trouxe algumas coisas bacanas, mas muita gente sente falta do contato maior com a capa, fotografia, o som diferente do vinil... E não só a minha geração. As mais novas, quando descobrem o LP, o adotam. É um objeto insubstituível e nunca vai sair de moda.

Viva o Vinil! – O que você mais gosta do vinil?
Charles Gavin - O objeto vinil é como um livro, eu tenho um prazer em manipulá-lo, sentir o cheiro... Lembro que o cheiro do disco importado, por alguma razão, tinha um cheiro diferente do nacional. Era um perfume de disco importado!

Viva o Vinil! - O vinil é melhor do que o CD?
Charles Gavin - A era do CD é a da praticidade, ele toca em qualquer lugar, tem uma boa qualidade. Não acho que o vinil é sempre melhor do que o CD, temos que analisar caso a caso.

Viva o Vinil! – O que o vinil traz de mais interessante para o músico?
Charles Gavin – O barato entre o músico e o vinil é resgatar um formato que é muito mais interessante. Você pode gravar em um CD até 80 minutos de música. E no vinil são 45 minutos, estourando... Mas isso fazia você selecionar as melhores da sua safra de composições. Nos anos 90, o padrão do CD se impôs na classe artística, onde tínhamos que lançar com 50 minutos de música, no mínimo. Eu mesmo me sentia culpado se não oferecesse menos do que isso para o público. Hoje eu acho que você deve oferecer o seu melhor.

Viva o Vinil! - Os lançamentos em vinil aumentaram, inclusive para todos os gostos e épocas, concorda?
Charles Gavin – Sim, o recente grande interesse transparece nos recentes relançamentos de clássicos e nos novos lançamentos das bandas atuais. São vinis prensados em 180 e 200 gramas, que mostram uma alta qualidade que, por exemplo, nos meus velhos tempos não havia. É um vinil virgem... E quanto mais profundo o sulco, mais qualidade tem o LP. O grave do vinil depende da profundidade do sulco, quanto mais a agulha vai lá pra baixo, maior a reprodução de um som de qualidade.

Viva o Vinil! – E os gringos têm lançado música em diversos formatos, como vinil duplo com cartão de MP3 etc.
Charles Gavin – Compro vários clássicos e adoro quando algo é lançado em várias plataformas: LP, CD, MP3... São mais opções para você!

Viva o Vinil! – Mas a indústria brasileira está cochilando...
Charles Gavin – Às vezes a gente vive uma ilusão de que o Brasil é um país desenvolvido... Não acho que é desenvolvido, nós temos algumas situações que o primeiro mundo desfruta, mas quando você parte para o todo, o Brasil está muito atrás. Esse é um bom exemplo. Lá fora uma banda lança um trabalho em várias plataformas, com várias opções... A evolução tecnológica propõe várias possibilidades para todos nós. Isso é uma conseqüência do Brasil ter virado um mercado igual ao de Portugal, por exemplo, que é um país menor. Já fomos o 5° mercado consumidor de disco do mundo, hoje nem sei mais em qual lugar estamos. Então, hoje, os nossos lançamentos são tímidos. E ainda tem a pirataria física, que está ligada ao tráfico de drogas, de armas... É fato. Agora, garotos que estão baixando sons do Led Zeppelin, conhecendo as bandas, é outra coisa. Minha opinião é outra, temos que discutir muito sobre o assunto.

Viva o Vinil! – O que fazer para melhorar isso?
Charles Gavin – Realmente se os preços fossem menores, as pessoas comprariam e não optariam por baixar qualquer arquivo. A música vendida ainda é muito cara. Os intermediários, como gravadoras e o Estado, com seus impostos altíssimos, ficam com a maior parte do bolo. E os músicos e compositores ficam com muito pouco.

Viva o Vinil! – Você se lembra do seu primeiro vinil?
Charles Gavin - O primeiro vinil que eu ganhei de presente dos meus pais foi um LP do Roberto Carlos, de 1974, que tem a música “Amada Amante”. Agora o primeiro que eu economizei e comprei foi o Burn, do Deep Purple. Esse disco tocava muito na minha época, inclusive nos bailes do colégio. Na época, o pessoal dançava muito o que era chamado de rock pauleira.

Viva o Vinil! – E qual foi sua compra mais recente?
Charles Gavin - Comprei o vinil duplo do Fireman, que é o projeto do Paul McCartney com o Youth, ex-baixista do Kiling Joke (www.thefiremanmusic.com).

Viva o Vinil! – Como você organiza sua discoteca?
Charles Gavin - Eu não consigo misturar gêneros, como fazem alguns amigos meus, que só arrumam por ordem alfabética. Primeiro, eu separo por gênero, depois por ordem alfabética, nacional e internacional.

Viva o Vinil! – Você tem alguma dica de limpeza de vinil?
Charles Gavin - Eu lavo meus discos com sabonete de glicerina, algodão e água fria. Jamais lave com água quente, porque esquenta e empena o LP! Também não fique colocando os dedos no vinil.

Viva o Vinil! – Tem mais alguma dica importante?
Charles Gavin - Se quiser digitalizar um vinil, a melhor dica é molhe o vinil, deixe a água dentro do sulco dele e depois coloque ele no toca disco para a agulha tocá-lo dentro da água. Isso ajuda bastante o curso da agulha dentro do vinil, porque ela desliza com maior facilidade. Em certos casos, melhora muito o som.

Viva o Vinil! – Para finalizar, você pode adiantar os próximos episódios de O Som do Vinil?
Charles Gavin - Meu programa está na terceira temporada e já posso adiantar alguns dos próximos personagens, como Eduardo Dussek, Jorge Mautner, Lady Zu, Gerson King Combo. Sempre escolho personagens que, além de terem feito grandes discos, são importantes e, apesar de estarem fora da mídia, têm muito que falar. Não podemos nos esquecer deles. E o Som do Vinil se propõe a isso, a mencionar e falar desses artistas tão importantes para a música brasileira.

Fonte: MTV
Colaboração: Adry

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Charles e suas listas de discos


Primeira linha: ‘Baterista Wilson das Neves’ (Elza Soares), ‘O poeta do povo’ (João do Vale), ‘Coisas’ (Moacir Santos), ‘Selvagem?’ (Paralamas do Sucesso), ‘Samba esquema novo’ (Jorge Ben). Segunda linha: ‘Os Mutantes’ (Os Mutantes), ‘Clube da Esquina’ (Milton Nascimento e Lô Borges), ‘Da lama aos caos’ (Chico Science e Nação Zumbi), ‘Nós vamos invadir sua praia’ (Ultraje a Rigor), ‘Tropicália ou Panis et Circensis’ (Vários) Terceira linha: ‘Elis & Tom’ (Elis Regina e Tom Jobim), ‘Barquinho’ (Maysa), ‘O último malandro’ (Moreira da Silva), ‘Acabou chorare’ (Novos Baianos), ‘A peleja do diabo com o dono do céu’ (Zé Ramalho) (Foto: Editoria de arte G1/Reprodução)

Veja lista com os 15 discos essenciais da música brasileira

O músico Charles Gavin escolhe as obras mais importantes do gênero.
Chico Science, Paralamas e Mutantes fazem parte da seleção.

Do G1, em São Paulo

Do samba ao "caos" de Chico Science & Nação Zumbi, passando pelo rock dos Mutantes ao Ultraje a Rigor, confira a seguir 15 discos essenciais para entender a música brasileira. A lista dos 15 foi elaborada por Charles Gavin, autor do livro ‘300 discos importantes da música brasileira’, a pedido do G1. Já os textos que descrevem os álbuns são de autoria dos jornalistas Tárik de Souza, Carlos Calado e Arthur Dapieve, que colaboraram com o músico na elaboração do projeto.


Caetano Veloso por Charles Gavin

Especialista em Restauração de Discos Antigos, Baterista dos Titãs Lança Caixa Todo Caetano, Com Toda a Obra do Compositor
foto: Leonardo Rosário
A versatilidade dos integrantes dos Titãs é conhecida por todos. Além de grandes músicos, eles lançam livros, atuam no cinema e têm sólidas carreiras solo. Portanto, Charles Gavin tratou de não ser apenas o preciso baterista do grupo. Desde meados da década de 80 inte-ressado no áudio profissional, por ser colecionador de discos de vinil e amante da MPB, ele resolveu misturar as vontades. E após alguns anos reeditando, de forma bem sucedida, obras clássicas da nossa música para o formato digital, Charles executou o que chama de "projeto da minha vida". O músico, juntamente com a gravadora Universal, está lançando Todo Caetano, caixa que contém 40 discos do músico e inclui um registro inédito do com-positor com a Banda Black Rio, além de um DVD-Audio, com os seus maiores sucessos mixados em 5.1. Diretor do projeto, do qual organizou e coordenou a equipe com a supervi-são do próprio Caetano, Charles Gavin bateu um ótimo papo com a M&T, onde contou um pouco sobre sua carreira como restaurador de discos antigos, explicou o processo de recu-peração dos álbuns de Caetano Veloso, e ainda falou sobre os próximos passos dos Titãs.


Quando e como surgiu a idéia de desenvolver o projeto de restauração de LPs antigos e transformá-los em formato digital?
Há, aproximadamente, quatro anos. Comecei a perceber que estava comprando muitas edições em CD de discos antigos brasileiros, todos fabricados no Japão. Fiquei incomodado com isso. Sempre que queria achar discos dos anos 60 e 70 de bossa nova e samba, precisa-va importar. Eu tinha condições para comprá-los, mas e quem não tem grana, já que são caríssimos? Os catálogos de música brasileira mantidos pelas gravadoras são muito reduzi-dos, até por conta do momento econômico no qual vivemos. Portanto, é impossível manter todos os discos em catálogo. Mas é preciso haver um meio termo, é necessário fazer com que as pessoas conheçam o passado.
Percebi, então, que havia um espaço muito grande para esse assunto e me movimentei. Na época, os Titãs estavam na Warner e a primeira pessoa que procurei para conversar foi o Beto Boaventura, hoje presidente da EMI. Disse que gostaria de me envolver com a reedi-ção desses discos. Ele abriu as portas dos acervos das gravadoras Warner e Continental. Achei coisas fantásticas e tive a idéia de lançar uma série de discos de bossa nova, que na época foi desacreditada, mas que agora será lançada.

Como estes discos chegavam ao mercado japonês?
A impressão que eu tenho é que eles se interessaram e começaram a arquivar música brasi-leira há cerca de 20 anos. Percebiam, já na época, que discos seriam raros e nós não dáva-mos a atenção devida. Os japoneses conhecem nossa música mais que a gente. E começa-ram a lançar esses discos lá. Ocorre da seguinte forma: eles pedem o licenciamento de alguns álbuns, que, na maioria das vezes, nunca foram lançados aqui. Então, recolhem o tape original e masterizam para CD. Não se trata de pirataria.
E quando vamos até uma boa loja de discos brasileira, grande parte dos CDs é importada do Japão. Se eu quero um disco do Tamba Trio, por exemplo, tenho que comprar um álbum de um grupo brasileiro, com músicas brasileiras, importado do Japão. Isso é meio louco.

Dos quais muitas vezes o vinil já nem existe mais...
Exato. Esses discos em vinil já foram embora há anos. E quando aparecem, são uma fortu-na.

Você teve acesso aos discos estrangeiros remixados?
Sim, eu fui à Tower Records, uma grande rede americana de lojas de CDs, e vi diversas caixas. O que mais me encantou foi a reedição dos discos de The Who, banda que adoro. Li uma matéria na revista Mix falando sobre o processo utilizado pelos produtores para restau-rá-los. Demoraram dois anos para mixar nove discos. Achei que isso também poderia ser feito no Brasil. Temos bons estúdios a preços acessíveis.

Qual foi seu primeiro projeto?
Propus para a Universal a reedição dos dois primeiros discos dos Secos e Molhados. Remi-xei o primeiro, que havia sido gravado em quatro canais e o segundo, em oito canais. Lan-çamos em um só CD, que é campeão de vendas do catálogo da Universal. Há tempos já tinha passado de 50 mil cópias, o que é muito se tratando de um relançamento. Desde en-tão, não parei mais.

Como é sua atuação dentro do estúdio?
Eu me sinto muito bem dentro do estúdio. Tenho um home studio na minha casa, no Rio de Janeiro. Há também um lugar em São Paulo onde os Titãs ensaiam. Muito antes desta minha empreitada já gravava ensaios das minhas bandas. Quando entrei para os Titãs, onde me tornei de fato um músico profissional, minha prioridade era investir em tecnologia musical, entender como funcionava e tal. E algo importante foi o convívio com o produtor Liminha. Como me mostrava interessado pelo aspecto técnico, ele me ensinava muitas coisas, e os Titãs gravaram grandes discos produzidos por ele.

Como adquiriu seu primeiro sistema?
Passei o reveillon de 1990 na casa do Liminha, em Los Angeles. Fomos a uma loja e fui incentivado por ele a comprar um porta-estúdio Yamaha, com o formato cassete. Foi um bom começo para entender como esse universo funcionava. Gravei várias demos nele, como a pré-produção do disco Tudo Ao Mesmo Tempo Agora, de 1991. Na turnê do disco O Blésq Blom levei comigo, além do porta-estúdio, um processador de efeitos SPX 90 (Yamaha) e uns microfones. Gravei vários shows. Esse envolvimento aconteceu natural-mente.

Chegou a fazer algum curso?
Eu tinha conhecimento, mas não entendia muito bem o porquê de utilizar compressores, equalizadores e em meados dos anos 90 não existiam escolas no Brasil. Em 1995, por intermédio do produtor e amigo Paul Ralphes, fiz um curso de engenharia de áudio, em Londres, durante seis meses. Na Inglaterra a música eletrônica já era bem difundida, assim como a tecnologia digital, algo que ainda não existia no Brasil.

Você se considera, então, um técnico?
Não. Quero deixar isso bem claro. Tenho um estúdio em casa, mas não posso me considerar um técnico. Eu me viro bem sozinho e me envolvo tecnicamente.

Você montou uma equipe para realizar esses projetos de reedição dos discos?
Há pessoas da minha confiança atuando comigo. Já trabalhei com o Roberto Marques e o Zorro. Sempre masterizo, ou com Ricardo Garcia, ou com Carlos Freitas. Possuem estilos diferentes, o que é ótimo. Acabo adequando o projeto a um deles.

Recentemente, você participou do projeto Odeon 100 Anos.
Fui convidado pela EMI para realizá-lo. São 45 discos antigos, produzidos entre os anos 50 e 70. Durante a pesquisa, fomos obrigados a fazer cópias com o áudio retirado do vinil, já que muitas fitas sumiram. Apesar de a EMI cuidar muito bem dos seus tapes, o tempo é implacável. Em outros casos, parte da faixa estava estragada. Para esses utilizamos o recurso Frankenstein (risos), onde juntamos trechos do vinil somados à fita.



Charles Gavin, exibe empolgado sua coleção de discos de vinil

E quais equipamentos são utilizados para a recuperação sonora desses discos?
O sistema No Noise, da Sonic Solutions, dá ótimos resultados. Existe um equipamento desenvolvido na Inglaterra chamado Cedar, que é excelente. Possui três módulos: o Dehisser para tirar ruídos, o Declicker para retirar os cliques e o Decrackler, que elimina os dropouts.

Há também um processo de recuperação que envolve o uso de um forno?
Sim, há um forno especial para essa função. A Som Livre possui alguns. Vários discos que pesquisamos para a gravadora Warner não estavam em bom estado. Dependendo do tamanho da fita, é feito um cálculo e em seguida ela é colocada no forno. Normalmente, já sai tocando. Nós fazemos de tudo para utilizar a fita. Considero o vinil o último recurso. Ainda mais o brasileiro, que sempre foi de péssima qualidade.

E ainda tinha a questão do corte...
Era a masterização da época. Durante esse procedimento, muitas freqüências eram eliminadas, alterando totalmente o som. Quando comecei a ouvir as fitas, notei que as músicas estavam muito bem gravadas e mixadas. Porém, o problema ocorria na hora de gerar o vinil. Um disco que me chamou atenção quando fui masterizar foi o Frutificar, do grupo A Cor do Som. Ouvi muito esse álbum na minha adolescência. Quando escutei a master em 1/4" pensei: 'não era esse o som do vinil'. O LP era uma coisa sem peso, fraca. Esses cortes mal feitos contribuíram para um tipo de pensamento comum no Brasil, que é o de nunca comparar rock brasileiro com internacional, já que não havia a pressão no som. E realmente era diferente. Quando colocávamos um disco do Terço e outro do Bad Company isso ficava nítido. Hoje, com a tecnologia atual, estamos livres desses problemas.



Gavi em seu estúdio: "tenho planos de expandi-lo".

Concentrado, ao lado do técnico Antoine Midani


Há cerca de um ano você coordena o lançamento da caixa Todo Caetano, com 40 dis-cos do compositor. Como surgiu a idéia?
Considero esse o projeto da minha vida. No início de 2000, eu estava numa loja nos EUA, onde encontrei várias reedições de discos de artistas como Lou Reed, Steely Dan e Buffalo Springfield. Na época, eu era responsável por remixar um disco inédito do Caetano, então a ficha caiu, e apareceu a idéia de fazer uma caixa. Iríamos lançar apenas um álbum, que encontrei enquanto pesquisava os arquivos da Warner. Era um show, gravado no teatro Carlos Gomes (RJ), em 1978, do Caetano Veloso tocando com a Banda Black Rio. Havia duas cópias: uma estragada e outra quase mono, mas em boas condições. Ouvi, achei muito bom e ofereci para a Warner, que não se interessou em lançar. Esse disco é um dos pontos altos da caixa.

Com a fita na mão, qual foi o próximo passo?
Encontrei o Caetano e a Paula Lavigne, sua esposa, numa festa. Contei a ela que havia encontrado o material e ela me pediu uma cópia. Fiz, enviei, e após quatro dias me ligou dizendo que o Caetano tinha adorado. Apesar de ele ser muito amigo dos Titãs, nunca fui íntimo do Caetano, sempre ouvia falar que ele gostava muito de alguns de seus discos antigos, mas não achava o som legal. Então, marcamos uma reunião, onde expliquei a idéia do projeto e mostrei trabalhos anteriores feitos por mim, dos quais ele gostou bastante. Deixei claro que tudo seria feito com a supervisão e aprovação dele. E assim foi feito.

O que dá um selo de qualidade ao produto...
Sim, mostra que não foi nenhum maluco que pegou a obra do cara e destruiu.

Como foi a montagem do projeto e da equipe?
A princípio, todos aprovaram. Mas até eu ter o orçamento na mão e o "ok" da gravadora demorou muito. Se eu não corresse, a caixa não sairia este ano. Bem, Caetano concordou e no ano passado comecei a idealizar tudo. No início de 2002, eu já estava com a equipe na cabeça, aliás, formada por pessoas excelentes. Isso faço questão de dizer. Contei com três dos melhores engenheiros do Brasil, que são o Antoine Midani, Eduardo Costa e Marcelo Sabóia. O DVD-Audio foi masterizado pelo Carlos Freitas e os CDs por Ricardo Garcia. Isso tudo no estúdio AR (RJ). Só consegui fazer esse projeto graças ao envolvimento e dedicação dessas pessoas.




Onde começaram as primeiras remixagens?
Com tudo aprovado, a Universal me perguntou o que eu achava de mixar no Mosh, em São Paulo. Tem uma sala para mixagem de DVD muito boa, com uma SSL Axiom MT, uma ótima console. Como eu estava ainda sem orçamento, o Oswaldo Malagutti, dono do Mosh, me ofereceu o estúdio durante o carnaval, já que ninguém iria gravar lá na época. Ele praticamente nos emprestou o local para testes. Fui para lá com Antoine Midani, acreditando que seria feito um disco por semana, mas o que era para ser uma durou três semanas. Fizemos apenas um disco, Bicho, de 1977, gravado em 16 canais. Mas a sala era muito cara e o trabalho demoraria muito tempo.

Qual foi sua impressão nessa primeira etapa?
Saímos de lá com esse piloto remixado e cientes dos problemas que seriam enfrentados. O principal deles é a idade da fita, que vai ficando abafada e perdendo as altas freqüências. Alguns instrumentos dependem dessas freqüências, como o violão, a caixa da bateria e a voz. Era difícil timbrá-los, já que havia muito ruído. No primeiro momento apanhamos feio, mas quando mostramos o resultado para a gravadora eles perceberam que era sério.

Quais foram as providências tomadas para a eliminação desses problemas?
Pegamos essa fita de 16 canais em 2" e transferimos para o Pro Tools TDM do Antoine, que tinha alguns plugins para eliminar esses ruídos. Funcionou, mas não era ainda o que queríamos. Então, fizemos um acordo com o estúdio AR, no Rio de Janeiro, que alugamos por meses. Mas antes de irmos para lá, eu e o Antoine nos preocupamos em não repetir os erros cometidos no Mosh. Descobrimos que a eliminação dos ruídos deveria ser feita antes da mixagem. Seria uma pré-produção.

Essa pré-produção começou no AR?
Não. Nós alugamos uma unidade do equipamento Cedar e viemos para o meu home studio. Foi um processo que demorou um mês e meio. Foi algo homeopático (risos). Alguns tapes não tocavam. Então, mandamos as fitas para os fornos da Som Livre e depois as transcrevemos para o Pro Tools. Trouxemos esses arquivos para a minha casa e o Antoine sentava no computador de manhã e ia até de madrugada editando.

Como foi esse processo?
Nós fomos eliminando os ruídos canal por canal e o Cedar é estéreo, ou seja, ele só limpa dois canais por vez. Seu processamento é feito em tempo real, por exemplo: se a música possui cinco minutos e 16 canais, imagina quanto tempo a gente levou pra passar o Cedar... Após seis álbuns limpos, nos mudamos para o AR.

Todos os discos foram remixados?
Escolhemos 13 dos 40 álbuns. Numa reunião com Caetano decidimos remixar até o disco Caetano, de 1987. Do Estrangeiro em diante apenas remasterizamos. Caetano gosta do som desses discos.

Foi realizada alguma manobra radical para a recuperação de determinadas faixas?
Fizemos várias manobras radicais. A eliminação dos ruídos, por exemplo, é praticamente um efeito noise gate, que deixa passar algumas freqüências, mais tarde equalizadas. O engraçado é que quando fomos ouvir os discos limpos, estranhamos muito por estarmos acostumados com a sujeira. Não queria que ficassem com som de tecnologia digital, iria descaracterizar a sonoridade da época. Se alguém fizer algo assim com os Beatles será fuzilado (risos). Eu insisto em dizer que os ruídos dessas gravações não fazem parte delas. É um defeito. Muitos discos tinham redução de canais com a bateria em dois canais, por exemplo. Então, como separar as peças? Essa foi uma questão que pairou sobre nossas cabeças. Algumas delas foram apenas masterizadas. Em outros casos nós conseguimos isolar os canais através do Pro Tools. O processo de edição da música Odara, por exemplo, foi doentio. Quando as pessoas ouvirem, vão perceber que valeu a pena. Na mixagem original praticamente não tinha bateria, nós a recuperamos.


"Os ruídos presentes em gravações antigas não fazem parte delas. É um defeito".

Durante a pesquisa, algumas fitas antigas não foram encontradas?

Sim, dos discos gravados em Londres encontramos Caetano Veloso e Transa. Araçá Azul, gravado no Brasil, também foi apenas remasterizado, pois não encontramos o tape. Discos gravados com outros artistas, como Doces Bárbaros, ao lado de Gilberto Gil, Gal Costa e Maria Bethânia, e outro ao vivo com a Bethânia, nós não remixamos porque esses músicos precisariam ser consultados, o que atrasaria o projeto. Mas estão na caixa remasterizados.

Foi produzido também um DVD-Audio?
É o grande ponto da caixa. Foi mixado por Marcelo Sabóia, estreando a sala de mixagem 5.1 do AR. Batizado pelo próprio Caetano de Muito Mais, trata-se de um best of com 20 faixas escolhidas uma parte pela Internet, outra por mim e pelo Caetano. É o primeiro DVD-Audio feito a partir de fitas antigas. A primeira faixa desse disco é Tropicália, que foi gravada em quatro canais. Por isso muita gente vai se perguntar como pôde ser mixada em 5.1. Nos canais estão voz, metais, orquestra e o resto (risos). Adotamos o mesmo procedimento de separação de instrumentos. A perspectiva do 5.1 faz com que seja praticamente impossível esconder alguma coisa mal tocada, mal gravada. Caetano adorou o resultado. Ele gravou Tropicália em 1967. Imagine sua reação ao ouvi-la em 5.1, restaurada. Quando mostramos, ele olhou para a gente e riu. Lembrou de tudo, desde o estúdio até dos músicos que participaram.

Alguma música não deu certo?
Eu gosto muito de tudo o que foi feito. Nós mixamos 13 discos. São 130 músicas aproximadamente. Para cada uma foram feitas no mínimo três mixagens. Cara, chegamos perto de 500 mixagens! Periodicamente, o Max Pierre, diretor artístico da Universal, pedia para ouvir e fazia observações. Muitas vezes eu sentia que poderíamos melhorar. Se tivesse dois anos, faria de outro jeito. Houve momentos em que a mixagem soava pior que a original. Quebramos as nossas cabeças. Mas no fim, valeu.

Você participou de outras etapas na produção da caixa?
Sou o coordenador do projeto. Não fiquei responsável somente pelo áudio, fui encarregado também das imagens. Pesquisei todos os discos originais com seus encartes. Percorri vários sebos. Achar a primeira edição do disco Transa foi muito difícil. Eram encartes com uma arte super diferente. Olhei os arquivos de fotos do jornal O Globo, do Estadão, para compor o book que acompanha a caixa. Enfim, é o projeto da minha vida. Tive muito trabalho, mas estou muito satisfeito.

Na caixa, há mais registros inéditos, além do disco com a Banda Black Rio?
Há um disco chamado Singles, que tinha saído apenas no Japão. São os compactos do Caetano reunidos em um só álbum, que inclui uma versão de Let it Bleed, dos Rolling Stones. Por uma questão de tempo algumas coisas ficaram de fora, mas vamos fazer um disco de raridades e sobras de estúdios.

Como foi a produção da caixa propriamente?
Houve uma preocupação enorme com a estética. Tivemos a idéia de restaurar também a arte. As capas dos CDs possuem formato idêntico às dos LPs, como se fossem miniaturas. Fomos fiéis aos originais. Além disso, coletamos um longo depoimento do Caetano falando sobre seus discos e incluímos no book que acompanha a caixa juntamente com fotos de diversas fases.



Os discos serão vendidos separadamente?
No princípio, não. Talvez na segunda metade de 2003. Mas não é nada certo.

O que esse projeto simbolizou para você?
Estou muito feliz. Ele me custou tempo e energia, mas estou extremamente agradecido pelo Caetano ter me deixado fazer isso com a obra dele.

Próximos projetos?
Tem um projeto chamado Arquivos Warner, com diversos discos de bossa nova que sairá agora. Tem coisas raríssimas como Quarteto Novo, uma das primeiras bandas de Hermeto Pascoal, e Bicho da Seda, uma banda do sul, da década de 70.

Você chegou a produzir algo dos Titãs?
Eu, juntamente com Branco Mello, produzi o áudio do DVD Acústico MTV. Nós remixamos para 5.1. Está indo em dezembro para as lojas. Há planos, ainda para este ano, do lançamento de outro DVD, contendo um show da turnê do disco Volume Dois.

Vocês pretendem reeditar os discos antigos?
Depende da Warner, gravadora que detém nosso catálogo. Gostamos muito de alguns discos, que gostaríamos de remixar, como o Tudo Ao Mesmo Tempo Agora, por exemplo. Algumas edições estão previstas para o ano que vem, masterizadas e com material extra, como demo tapes. São os discos Titãs, o primeiro, de 1984, e Jesus não Tem Dentes no País dos Banguelas, de 1987. Temos também um registro ao vivo do lançamento do disco Cabeça Dinossauro, em São Paulo. Mas não há nada certo.

E quais os planos do grupo?
Estamos entrando em estúdio no mês de março para registrar um disco de inéditas. Já esta-mos ensaiando, criando, produzindo arranjos. Tá na hora de criar. Além disso, meu estúdio está em fase de expansão. Pretendo fazer a pré-produção do disco novo dos Titãs aqui.

Estes são os discos contidos na caixa Todo Caetano:
Domingo - 1967
Caetano Veloso - 1968
Tropicália - 1969
Caetano Veloso - 1969
Barra 69 - Caetano e Gil ao vivo na Bahia - 1969
Caetano Veloso - 1971
Transa - 1972
Caetano e Chico Juntos e Ao Vivo - 1972
Araçá Azul - 1973
Temporada de verão - Caetano, Gal e Gil Ao vivo na Bahia - 1974
Jóia - 1975
Qualquer Coisa - 1975
Doces Bárbaros - Caetano, Gal, Gil e Bethânia - 1976
Bicho - 1977
Muitos Carnavais - 1977
Muito - 1978
Maria Bethânia e Caetano Veloso Ao Vivo - 1978
Cinema Transcendental - Caetano Veloso e a Outra Banda Terra - 1979
Outras Palavras - 1981
Brasil - João Gilberto, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia - 1981
Cores, Nomes - 1982
Uns - 1983
Velô - Caetano Veloso e a Banda Nova - 1984
Totalmente Demais - 1986
Caetano - 1987
Estrangeiro - 1989
Circuladô - 1991
Circuladô Vivo - 1992
Tropicália 2 - 1993
Fina Estampa - 1994
Fina Estampa Ao Vivo - 1994
Livro - 1997
Prenda Minha - 1999
Omaggio a Federico e Julietta - Ao Vivo - 1999
Noites do Norte - 2000
Noites do Norte - Ao Vivo - 2001
Eu Não Peço Desculpas - 2002
Muito Mais (DVD AUDIO) - 2002
Singles - 2002
Bicho Baile Show - Ao vivo com a Banda Black Rio - 2002


Aqui estão os 45 Lançamentos da série ODEON 100 Anos, coordenada por Charles Gavin
Bola Sete - Burnier & Cartier - Carmen Miranda - Cartola / Odete Amaral / Clementina de Jesus / Nelson Cavaquinho / Carlos Cachaça - Conjunto Sambacana - Conjunto Sete de Ouros - Conjunto 3D - Di Melo - Doris Monteiro - Doris Monteiro & Miltinho - Dori Caymmi - Eduardo Araújo - Elza Soares - Eumir Deodato - Francis Hime - Geraldo Vespar - Germano Mathias - João Donato e Seu Conjunto - Leny Andrade - Lô Borges - Luiz Bonfá - Luiz Eça & Astor - Marcos Valle - Maria Bethania - Moreira da Silva - Nelson Angelo & Joyce - Nonato Buzar - Norma Bengell - Orlandivo - Os Cinco Crioulos - Pery Ribeiro & Bossa Três - Quarteto em CY - Quarteto Novo - Sexteto Radamés - Som Três - Tito Madi - Toninho Horta - Toni Tornado - Walter Wanderley - Wilson das Neves.

Fotos do mestre Charles na bateria



Produções de Charles Gavin


Coletânea reúne bandas dos anos 80
09/08/2003 - Jornal de Brasilia

Por Rodrigo Leitão

Baterista dos Titãs edita série que resgata sucesso dos grupos de Brasília.

O rock de Brasília dos anos 80 está de volta. Pelo menos em parte. O baterista dos Titãs e produtor musical Charles Gavin, acaba de editar uma compilação para a gravadora EMI - que deteve a maior parte das bandas locais naquele período - com o objetivo de resgatar o que de melhor se produziu na cena pop nacional, há 20 anos. O primeiro CD da série Pop Rock Nacional Anos 80 (Discoteca Básica - Volume 1) já está na lojas e traz, entre outros, Paralamas do Sucesso, Finis Africae, Plebe Rude e Arte no Escuro.

Quando o explodiu o boom do rock brasiliense no início dos anos 80, ninguém imaginava que, a partir da cisão do Aborto Elétrico (virou Legião Urbana e Capital Inicial no final de 1982) oito bandas surgidas na cidade chegariam às grandes gravadoras em menos de cinco anos. Até o final de 1987, Legião Urbana, Plebe Rude, Finis Africae e Arte no Escuro (EMI), Banda 69 (CBS, hoje Sony), Obina Shock (BMG), Capital Inicial e Detrito Federal (Polygram, hoje Universal) já tinham assegurado um passaporte nacional.

O CD produzido por Gavin traz 16 grupos e artistas pertecentes ao cast da EMI, entre eles Dulce Quental (ex-vocalista da banda feminina Sempre Livre), os paulistas do Zero - cujo show de lançamento foi em Brasília, no teatro do Colégio Alvorada, em 1984), as punks paulistas da Mercenárias e o ska bem-humorado do Kongo, produzido por Bi Ribeiro, de onde saiu o parceiro de Ed Mota, Bom Bom, para formar a Conexão Japeri.

A compilação reedita as gravações originais e, segundo Ronaldo Pereira, baterista do Finis Africae, pode ser uma porta para resgatar o LP que banda lançou em 1988 e que vendeu 60 mil cópias. "Estamos tentando que a EMI reedite o disco em CD", disse o músico agora radicado no Rio de Janeiro e que mantém a banda em atividade, ao lado do vocalista Eduardo Moraes.

"Há muito tempo eu tinha vontade de montar um disco com as bandas e os artistas da nossa geração lançados pela EMI", conta o produtor Charles Gavin, que já teve essa experiência na antiga Polygram (hoje Universal) relançando nomes da MPB.

Embora não seja uma coletânea sobre o rock produzido em Brasília nos anos 80, Pop Rock Nacional dos Anos 80 (Discoteca Básica - Volume 1) traz quatro grupos que surgiram a partir da cidade (mesmo os Paralamas nunca tendo tocado aqui com esse nome, Herbert e Bi sempre divulgaram que tudo começou na capital).

O CD abre com Fui Eu, o maior sucesso do segundo LP do PDS, O Passo do Lui - um amigo do trio que hoje mora em Brasília, onde é artista plástico e funcionário do Banco do Brasil. A Plebe Rude (o guitarrista Philippe Seabra e o baixista André X também estão morando na cidade) vem em seguida, com A Ida, o hit do disco de Nunca Fomos Tão Brasileiros, de 1987. Finis Africae é recuperado com Armadilha, que também integrou a trilha sonora do filme Anjos da Noite, que marcou a estréia do diretor Wilson Barros. O Arte no Escuro surge com Beija-me Cowboy, com letra do garoto-capa dos Paralamas (fundador da banda), na voz de Mariele Loyola (Ex-Escola de Escândalos e fundadora da Volkana).

Charles Gavin entrevista na Uol e fotos do livro "300 Discos Importantes da Música Brasileira"






















(04:10:15) Charles Gavin: A idéia do livro "300 Discos Importantes da Música Brasileira" era montar um painel da música brasileira desde quando começou a ser gravada até os dias de hoje. É uma sugestão minha e destas três feras, o Tárik de Souza do Jornal do Brasil, Carlos Calado da Folha de S.Paulo e Arthur Dapieve do Globo. Eles escrevem sobre música. Eu os convidei para fazer este projeto e no livro damos sugestões de 300 discos.

(04:12:15) Charles Gavin: Neste projeto feito a tantas mãos primeiro escolhemos os artistas que não poderiam ficar de fora e destes artistas os discos que são essenciais. Alguns poucos artistas tiveram mais de um disco escolhido pelo volume da obra, são eles Tom Jobim, João Gilberto, Jorge Ben, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Chico Buarque e Tim Maia. Pois é muito difícil apontar qual o disco essencial dentro destas obras fantásticas. Dentro deste bom senso, claro que cada um chegou com uma lista de mais de 300 discos. Na primeira seleção que eu fiz com o Tárik estávamos com uma lista de 450 discos e fomos tirando. Foi difícil tirá-los, não foi fácil.

(04:14:31) Charles Gavin: A nossa idéia inicial era montar um painel da música brasileira, uma sugestão de discoteca básica, sendo assim não tivemos nenhum preconceito contra nenhum gênero da música brasileira, desde sertanejo, funk... E para algumas camadas da sociedade alguns são difíceis de engolir como o funk. Ontem tivemos um debate na livraria Cultura e ele começou exatamente com este tema, ficamos quase uma hora falando disso. Naturalmente a polêmica se instaurou ali, porque as pessoas questionam mesmo o valor cultural e artístico deste gênero. A música brasileira é isso, uma diversidade tamanha que a gente até se assusta com ela.

(04:08:41) caca: Qual disco foi o mais difícil de ser encontrado?

(04:15:49) Charles Gavin: caca, tem vários, um deles é o primeiro disco extraordinário de um sambista chamado Miltinho que foi gravado em 1950. A sua gravadora, a Sideral faliu depois de lançar este disco. E eu o consegui por meio de um colecionador que tem um blog (loronix.blogspot.com) sensacional sobre música brasileira. Este cara que acabou sendo colaborador do livro tinha este disco e me deu de presente, mandou para a minha casa do Rio de Janeiro. Este foi um dos mais difíceis.

(04:16:55) Charles Gavin: Alguns discos vêm com encarte, com contracapa, sempre que possível aproveitamos este material. O design gráfico é da Silvia Ribeiro e da Clarice Ubá, sua assistente, que foi um trabalho sensacional. Nós conseguimos fotos raríssimas de um acervo de um dos fotógrafos mais importantes da década de 60 que é o Francisco Pereira. São fotos inéditas.

(04:08:51) Gustavo: Charles, já lia as várias notícias sobre o lançamento do seu livro e queria saber se discos de Bethânia, Gal e Simone estão entre os seus escolhidos e quais.

(04:18:46) Charles Gavin: Gustavo, estão sim, nós escolhemos de alguns artistas dois ou três álbuns e dos demais um só, foi difícil. O disco da Gal foi o "Gal Fatal" lançado em 1970 ou 1971, um show ao vivo e parece que é o primeiro álbum duplo da indústria fonográfica brasileira. Da Maria Bethânia é o "Drama", década de 70 também. A Simone acabou ficando em uma das listas adicionais. Quando terminados a nossa lista dos 300 percebemos que tinha muita gente que ainda não havíamos colocado, mas o tempo para concluir o livro estava acabando. Se eu não entregasse para o patrocinador iria levar uma multa assustadora. Porque os contratos feitos hoje da lei Rouanet são feitos assim. No final do livro colocamos listas adicionais onde colocamos discos que consideramos importantes e ela entrou na lista do Tárik de Souza. Então cada um listou 30 discos que eram para ter entrado e que não conseguimos colocar.

(04:11:08) Adry: Oi Charles!!! Tudo bom? Gostaria de saber porque, entre tantos discos importantes da música brasileira, foram escolhidos os da Elza Soares e o do Moreira da Silva pra serem os CDs que vem junto do livro?

(04:20:47) Charles Gavin: Adry, a idéia era fazer um disco especial para o livro com duas compilações que viessem encartadas no livro com várias faixas de cada disco, mas acontece que ficou muito caro. Fui às gravadoras que são donas das gravações e apresentei o projeto, mas o orçamento que elas me deram não teria verba dentro do projeto. Achei que dois discos "Baterista: Wilson das Neves" (1968), de Elza Soares e "O Último Malandro" (1959), de Moreira da Silva eram muito legais, representativos e poderiam substituir a idéia inicial de fazer compilações para este livro.

(04:14:00) Marvin Junior: Charlao, qual (ou quais foram) foi o maior obstaculo que voces encontraram pra fazer esse trabalho dos "300 discos..." ?

(04:22:46) Charles Gavin: Marvin Junior, foram vários, mas o obstáculo inicial foi conseguir patrocinador para este projeto. Ele não poderia acontecer se não fosse o patrocinador que é a Petrobrás. Depois de muitos telefonemas, vários pilotos, felizmente eles acabaram topando fazer este livro. Este foi o obstáculo maior, demorei dois anos para conseguir este patrocínio. A Petrobrás só patrocina projetos com caráter cultural, identidade com a cultura brasileira e contrapartida social. Todos estes projetos que são feitos através da lei Rouanet tem que ter uma contrapartida social porque são feitos com dinheiro do incentivo fiscal. Tudo tem que ser documentado e tem que ser assim mesmo porque é dinheiro público e sem isso não existiria este projeto.

(04:14:04) pequena: o que vc achou da iniciativa da Adriana Calcanhoto em fazer um disco dedicado às crianças... vc não acha que o público infantil está carente de boa música??

(04:26:27) Charles Gavin: pequena, você está absolutamente certa. Não só boa música, mas o público infantil precisa de projetos em geral que tenham um comprometimento educacional, divertir e ao mesmo tempo ensinar. Eu me dei conta de que a produção da TV aberta está deixando muito a desejar, não consigo citar um programa que tenha um caráter educacional com exceção da TV Cultura. O disco "Adriana Partimpim" da Adriana Calcanhoto é extraordinário porque trata a criança com inteligência, é ligado a poesia, um disco delicado. A música foi tão bem construída que poderia ser um disco de adulto. Isto é tão bom, ouvi muito este disco e vi que sem dúvida é um dos mais legais produzidos para o público infantil. De uns anos para cá houve uma retomada destas produções como o Palavra Cantada. Isto estimulou as pessoas a quererem fazer. O disco da Adriana vendeu muito, então foi provado que este tipo de projeto se paga, é viável, bom e saudável. Isto chamou a atenção de vários outros músicos, a partir daí uma nova leva tem acontecido.

(04:14:09) tatinha: o que vc acha do rock bem humorado do Ultraje a Rigor?

(04:28:55) Charles Gavin: tatinha, o disco do Ultraje que entrou foi "Nós Vamos Invadir a Sua Praia". Fui testemunha de que este disco foi um sucesso avassalador. Tocava nas rádios várias músicas dele ao mesmo tempo, quase quatro a cinco faixas tocando simultaneamente. É o melhor da minha geração porque tem um discurso político muito bem feito, construído pelo Roger, e adequado para a época. E tem uma ironia de paulista, de paulistano que é difícil. Porque nós não nos destacamos pelo humor, pela ironia, diferente do Rio. Quando este disco chegou ao Rio com este humor ácido do Roger e o som da banda que era puro rock n roll foi uma coisa que pegou nas rádios cariocas e é muito interessante porque devolveu uma coisa que os cariocas diziam dos paulistas de que eles mal-humorados etc. Então ele usou isso e devolveu com um humor que deixou os cariocas até surpresos. Ele estourou no Brasil todo e o Ultraje se tornou uma super banda. É um clássico da música brasileira.

(04:17:00) Igor Garcia: Admiro muitíssimo seu trabalho de "garimpeiro" da música brasileira. Gostaria de saber como é possível mobilizar uma gravadora a reeditar um álbum originalmente lançado em LP. Que argumentos você costuma usar para conseguir convencer "os caras" de que tais relançamentos são viáveis?

(04:31:00) Charles Gavin: Igor Garcia, a gente vive em uma sociedade capitalista, propor projetos que não tenham lucros ou com uma margem de lucro pequena não será aceito. O meu argumento é provar para as gravadoras que os projetos que eu faço são viáveis e dão dinheiro porque tem um público que quer isso. O difícil é conseguir convencer as gravadoras. De todos os projetos que fiz todos venderam. É duro provar isso porque as gravadoras precisam de toda a sua verba disponível para promover os discos dos artistas atuais. Isto acontecia antes dos anos 90 e agora com esta situação dramática das gravadoras se agravou.

(04:17:15) ZECA: Chales parabéns pelo trabalho...se vc fosse fazer a lista de disco de bandas internacionais quais seriam, na sua opinião, os 10 primeiros

(04:33:15) Charles Gavin: Zeca, consideando só rock "Nevermind", do Nirvana, "Dark Side of the Moon", do Pink Floyd, "Paranoid", do Black Sabbath, "Led Zepellin 4", "Selling England By the Pound", do Genesis, "Brain Salad Surgery" do Emerson, Lake & Palmer...
Na era moderna temos o álbum preto do Metallica, um disco excepcional. Também colocaria "Kid A" do Radiohead, o segundo disco do Cold Play, aquele tem aquela capa branca, e "Mezzanine", do Massive Atack.

(04:19:29) Marvin: Gostaria de saber se é muito difícil não deixar o gosto pessoal ditar o rumo das escolhas ?

(04:34:23) Charles Gavin: Marvin, é difícil, tem que ter bom senso por isso é importante trabalhar com mais gente, pois às vezes exageramos. Com estas listas se percebe os gostos pessoais de cada um.

(04:36:09) Charles Gavin: Tem um cara que é super cult que há alguns anos lançou um disco de música preta, é o Gerson King Combo que entrou na minha lista pessoal. O grande mestre desta época foi o Tim Maia que misturou grandes mestres com a música brasileira.

(04:38:00) Charles Gavin: Sobre o disco "Racional", a negação do Tim Maia e a não reedição deste disco acabou levando a esta coisa de cult. As letras falam do universo e desencanto a que o Tim Maia pertenceu naquela época.

(04:39:07) Charles Gavin: Quando vaza um disco na internet a contragosto do artista não gosto de ouvir. Fico um pouco incomodado quando sei que aquilo vazou contra a vontade do artista, é como se eu estivesse compactuando com algo que ele não gosta. Fico pensando qual foi o cara de dentro do estúdio que saiu com as gravações escondidas, a troco de quê fez isso, eu não faria.

(04:19:33) Ricardo: boa tarde, na sua opinião, pq hj em dia o rock nacional não está tão bem representado como antigamente, na época dos 80's de bandas como vcs..,rpm, ultraje a rigor..., oq está faltando nas bandas atuais???

(04:19:35) Charles Gavin: Ricardo, não sei se vou conseguir responder a esta pergunta, a música é fruto de um momento que as pessoas estão vivendo, do que está acontecendo na vida das pessoas naquele momento específico. Neste livro eu falo de um conceito interessante que é o álbum. O que era álbum para mim que sou da geração do vinil. O álbum é como se fosse uma polaroid daquele momento da vida do artista. Por exemplo, citei um disco clássico do Pink Floyd, este disco é conceitual, ali tem críticas contundentes da sociedade naquele momento, uma sociedade capitalista, consumista. Tem uma música chamada "Dinheiro", por exemplo, com uma letra absolutamente atual. Este disco foi feito em 1973, eu acho, e reflete o que você está pensando naquele momento.
Os discos e os filmes refletem o que a sociedade está pensando no momento, não tem como desvencilhar. O entretenimento de consumo imediato, consumo em grupo, aquele que se faz com mais de uma pessoa, em que a comunicação é mais rápida, refletem os nossos dias. Acho que a sua pergunta é "cadê aquelas bandas contundentes, gritando e berrando".
Acho que este é um mundo em que talvez a contundência, a rebeldia, esteja localizada em outra forma e você não consiga ver. Por exemplo, o Tárik no debate de ontem disse que o funk é a música de protesto da periferia, assim como o rap, ou seja, um protesto mais sutil do que aquela coisa apelativa que possa parecer. Não estou endossando isso, mas as formas de protestar talvez estejam mudando tão rápido e talvez aquilo de a música protestar para mudar o rumo de suas vidas não ocupe mais este lugar. O que ocupe isso talvez seja a internet e suas diversas formas de expressão. Talvez a música tenha se tornado uma coisa muito parecida com o que o cinema é hoje em dia, uma forma de entretenimento absolutamente descartável. Se divertiu, consumiu, gostou, curtiu, o próximo... Enquanto que discos como este que citei é uma coisa que atravessa os tempos, está ali e continua atual.

(04:23:44) Fabi Yoko: Tudo bem? Por que, em sua avaliação, o álbum Cabeça Dinossauro não poderia ficar de fora dessa seleção?

(04:23:46) Charles Gavin: Fabi Yoko, é delicado para mim ficar falando dos Titãs em um livro como este. O pessoal queria que dois discos do Titãs entrasse e eu não permiti. Se entrasse dois deles teria que entrar dois do Legião, dois do Paralamas... E aí eles escolheram o "Cabeça de Dinossauro". Mas dentro da nossa discografia este disco é uma unanimidade.

(04:24:54) Marvin Junior: Charles, com relacao ao proximo disco dos Titas; o tony vai cantar, o Britto e o Branco vao tocar baixo.... e voce ? vai ja esta pronto pra tocar baixo tambem ??

(04:24:57) Charles Gavin: Marvin Junior, sabe que eu estudo contrabaixo há três anos, voltei para a escola de música. A gente nunca deve sair da escola, lá fazemos muita troca, gosto da situação de ser um aluno eterno. Entrei em uma escola de música no RJ com um professor fera. E só vou tocar baixo profissionalmente quando estiver tocando decentemente porque eu não toco nada. Também não acho que os Titãs estejam precisando disso. Vamos tocar só entre os cinco titãs. O Paulo tem facilidade para tocar qualquer instrumento, até bateria ele toca. O Branco vem se esforçando há muitos anos e assumiu o baixo na banda. Então acho que não precisa, temos dois baixistas excelentes que dão conta do recado e não precisa de um terceiro que nem toca ainda.

(04:25:25) Charles Gavin: Sobre o show Paralamas e Titãs: Ainda estamos em turnê. Me divirto muito tocando ao lado do Barone, primeiro porque sou seu fã, é o maior baterista dos anos 80. Também é um grande músico, tem uma visão de prática de grupo excepcional. Nós ensaiamos muito para fazer este show. Isto é essencial para que a prática de grupo seja prazerosa. Os Titãs entraram de cabeça neste show, gosto de vê-los tocando as músicas dos Paralamas e vice-versa. O som que resulta disso é
muito bom, não tem nada mecânico ou eletrônico. Temos uma combinação que dá muito certo há muito tempo. Lançamos um DVD este ano que está indo super bem. Espero que este projeto ainda dure bastante.

(04:25:05) Rhiiiiii: Charles, e se fosse possível listar as 10 músicas preferidas pelos titãs? quais seriam? ahhh vo ter um treco!!!

(04:25:08) Charles Gavin: Rhiiiiii, em primeiro lugar "Diversão", uma das músicas, modéstia a parte, mais importante dos anos 80, o texto é espetacular e atual. Também "Lugar Nenhum", "Comida", Marvin"... E "Go Back", a letra é de um poema do Torquato Netto. "Nem Sempre se Pode Ser Deus", uma composição genial do Branco Mello. "A Melhor Banda de Todos os Tempos" é muito boa, pois trata desta coisa descartável do nosso dia-a-dia. Também tem "Epitáfio", esta música é usada em palestras de empresas para motivar as pessoas, brincamos com o Britto que ele fez uma canção sobre aproveitar a vida bem e ela acabou se tornando quase que uma literatura de auto-ajuda.

(04:35:53) dani fala para Charles Gavin: charles, tive a oportunidade de ver a pré-estréia do filme dos titas e gostaria de saber se todos voces aprovaram a versao final do filme antes do lançamento e como foi rever tantos momentos emocionantes da historia da banda. um beijo grande

(04:35:59) Charles Gavin: dani, um beijão. Foi uma emoção gigantesca, em vi pela segunda vez em SP. O filme estreou no festival do RJ. Foi como ver a sua vida passando resumida em uma hora e 40 minutos. É super impactante e aprovamos a decisão final. Nada naquele filme foi feito sem autorização ou sem consultar as pessoas envolvidas, por isso demorou tanto tempo. Foram seis anos de autorização, de edição etc. Tínhamos um material vastíssimo, 300 horas de filme. Outra coisa, o filme não tem narração em off, a narrativa se dá através das cenas, não é tão cronológico. Não aparece capas de discos. Então o Branco contou a história dos Titãs desde antes da banda até o disco "Como Estão Vocês?" de 2003. Ele considerou a história da banda mais importante do que os discos. Depois de assistir dá uma sensação de bem-estar muito grande. Também o som foi muito bem cuidado, o áudio está editado de uma forma tão perfeita. Porque somos do tempo de fita magnética, então variava de gravador para gravador. O tratamento do som é tão bom, soa tão alto e nítido que é um filme de rock mesmo. O filme "A Vida até Parece uma Festa" irá entrar em cartaz no dia 16 de janeiro.

(04:38:31) Adry: Charles, o Canal Brasil já demonstrou algum tipo de interesse pra fazer a 3ª temporada do O Som do Vinil?

(04:38:36) Charles Gavin: Adry, demonstrou e vai acontecer uma terceira temporada em 2009. Iremos entrar em uma fase de produção em dezembro. Na minha lista tem figuras fantásticas que acabamos não podendo entrevistar na temporada anterior.

(04:43:42) Raimundos: Charles, em aproximadamente 1994, qual foi sua participação no apoio do Titãs no lançamento do 1º disco dos Raimundos???

(04:43:46) Charles Gavin: Raimundos, a nossa participação é bem equilibrada no primeiro disco dos Raimundos. Eles faziam aquela fusão de hardcore com forró que só eles sabiam fazer. Para ajudá-los fizemos alguns shows com eles abrindo para a gente. Fizemos um bom trabalho, tanto é que a banda vendeu mais de 100 mil discos e é o melhor disco deles. Este disco está no livro. Fizeram bons discos depois, mas este tem uma sonoridade que é uma novidade. Depois disso eles ficaram tão grandes que o nosso selo Banguela ficou pequeno para eles. Daí a Warner os levou embora.

(04:44:43) Mário Piauí: Qual foi o outro disco dos Titãs que iria entrar na lista do livro?

(04:44:48) Charles Gavin: Mário Piauí, é o "Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas" de 1987.

(04:56:40) APENAS UM HOMEM: oq vc acha que poderia ser feito pra se acabar com a pirataria e copias de dvds via internet?

(04:56:45) Charles Gavin: Apenas um Homem, sobre a pirataria física, isto é função do Estado fiscalizar. O governo brasileiro não tem um olhar preciso e profundo para o setor do entretenimento no Brasil. A legislação está totalmente defasada da realidade. O fato é que você pode comprar um CD ou DVD pirata, ou até um software pirata, em qualquer lugar de SP. E as pessoas estão trabalhando, não os condeno. O Estado é conivente com esta situação. Claro, isto sustenta muita gente trabalhadora, gente que não está no mercado de trabalho formal, mas não sou a favor disso. Mas acho que tinha que ter uma legislação própria para o setor de entretenimento com um olhar mais moderno. Nós tratamos da indústria do entretenimento como se trata outra empresa, não é, por exemplo, como vender shampoo.

(04:57:39) Mateus: Qual é o disco mais raro de sua coleção?

(04:57:42) Charles Gavin: Mateus, eu encontrei um disco no centro de São Paulo do Jorge Ben com o Trio Mocotó gravado em 1973. Era um álbum duplo dele tocando violão de náilon com o Trio Mocotó que é o trio que o acompanhou durante muito tempo. Era voz e percussão, então é o acústico do Jorge Ben feito em 1973.
Este LP só saiu no Japão. Não vou dizer quanto paguei por este disco, não foi pouco, mas foi comprado em prestações. Não gasto pouco com vinil. O disco agora está em casa fechado e lacrado onde ninguém põe a mão. Ouvi na loja inclusive para checar. A minha intenção é fazer uma cópia em CD para nunca mais ninguém mexer, mas ainda não tive tempo. É uma preciosidade.

(04:58:12) Charles Gavin: Quem comprar o livro "300 Discos Importantes da Música Brasileira" estará contribuindo com a campanha do Instituto Sou da Paz que faz um trabalho genial com jovens da periferia. O livro está sendo vendido somente na livraria Cultura (www.livrariacultura.com.br). Obrigado.

Charles Gavin e Bossa Nova


Caetano Rodrigues e Charles Gavin
Bossa Nova e Outras Bossa - A Arte do Design das Capas dos LPS. 31 x 31 cm , 311 pp- : Independente. 2005.
Apresentação: Ruy Castro. Introdução: Ruy Castro. Prefácio: Ruy Castro. Revisão: Renato Potenza, Régis Tadeu, Mariana Roquette-Pinto e Claudia Roquette-Pinto. Textos: Caetano Rodrigues e Charles Gavin. Tradução: Rosana Ferrão, Paul Ralphes, Heloisa Seixas e Julia Romeu.



Categoria: Artes
Resenha:
Encontramos nesta obra, capas dos discos de Bossa Nova (nacional e internacional) produzidos na década de 60 e 70, além de informações e curiosidades das obras e dos artistas da época.

Titãs lançam "Sacos Plásticos" em Sampa


TITÃS FAZEM SHOW DO LANÇAMENTO DE "SACOS PLÁSTICOS", DIAS 19 E 20 DE SETEMBRO, NO CITIBANK HALL

Os Titãs fazem o show de lançamento de seu novo CD "Sacos Plásticos", dias 19 e 20 de setembro, no Citibank Hall. Pela primeira vez, Branco Mello (voz e baixo), Charles Gavin (bateria), Paulo Miklos (voz e guitarra), Sérgio Britto (voz, teclados e baixo) e Tony Bellotto (guitarra) sobem no palco sem músicos convidados.

A banda apresenta seus novos sucessos "Porque eu sei que é amor", "Antes de você", "Sacos plásticos" e "A estrada", além dos clássicos "Televisão", "Go back" e "Diversão".

Após o sucesso do lançamento no cinema, os Titãs lançaram o DVD do documentário musical "Titãs, a vida até parece uma festa", dirigido por Branco Mello e Oscar Rodrigues Alves. O DVD traz como extras cenas inéditas com 10 minutos de duração, seis clipes históricos especialmente remixados em 5.1, "Flores", "Saia de mim", "Isso", "Epitáfio", "A melhor banda de todos os tempos da última semana" e "Será que é isso que eu necessito?", além de 42 partituras de todas as músicas dos Titãs que estão no filme, extraídas do Songbook oficial, para download em computador.


Charles gavin e suas indicações-2003


A Voz do Comendador / Retrospectiva 2003

Charles Gavin - 25/12/2003


A VOZ DO COMENDADOR / artigo dois /25.12.03

- Melhores momentos de 2003
-
1)Invasões Bárbaras de Denys Arcand
2)Sobre meninos e lobos de Clint Eastwood
3)Sex and The City ( série )
4)Cidade de Deus de Fernando Meireles(DVD com o making off)
5)Led Zeppelin (ao vivo) dvd duplo
6)Show do Coldplay no Brasil
7)Tim Festival no Rio
8)Danko Jones/ Born a lion
9)Iggy Pop / Skull Ring
10)Beth Gibbons & Rustin’man / Out of Season
11)Radiohead / Hail to the thief
12)The Ravionettes / Chaingang of Love
13)Nick Cave / Nocturama
14)Placebo / Sleeping with Ghosts
15)Underworld / 1992-2002
16)Marcelo D2 / À procura da Batida Perfeita
17)Paulo Moura / Estação Leopoldina
18)Pitty/ Admirável Chip Novo
19)Jobim Sinfônico (cd e o dvd)
20)João Donato e seu Trio/ Muito à Vontade
21)Trio Mocotó/ Beleza!Beleza!!Beleza!!!
22)Marcelinho da Lua / Tranquilo!
23)Zeca Pagodinho/ Acústico MTV
24)Katia B/ Só Deixo o Meu Coração na Mão …
25)Elza Soares/ Negra (caixa com todos os LPs)

Piores Momentos de 2003
1)Coluna de Diogo Mainardi na revista VEJA
2)Participação de Diogo Mainardi no programa do canal do GNT Manhattan Connection
3)"Escuta aqui" do Folha Teen


FIM e até 2004 !!!!!!!!!!!!

Entrevista com Charles Gavin em 2003


Entrevista Exclusiva - Charles Gavin

Claudio Szynkier - 06/11/2003


Após coletiva dedicada ao lançamento do novo álbum (Como Estão Vocês?), ainda em plena correria, o baterista dos Titãs, Charles Gavin, concedeu entrevista exclusiva e generosa - apesar de rápida - à Agência Carta Maior.

Carta Maior - A História dos Titãs é marcada por uma grande estabilidade dentro do cenário do rock nacional. Vocês transmitem o som da banda em uma escala de tempo que já compreende gerações. Vocês, em termos sonoros, formam gerações?

Charles Gavin - Olha, tem acontecido algo engraçado nos shows. A gente já chegou a ver avô com neto (risos). O que mais vemos é pai com filho, mãe com filho, pai com filha, mãe com filha, mas eu acho que é um processo natural. A gente influencia as novas gerações, que, por sua vez, nos influenciam, e a gente devolve a informação.

É um processo até dialético: não tem como nos mantermos fechados. O que nós fazemos não é para isso, não é "sobre" isso. E, automaticamente, nós ainda somos uma banda que tem assunto, uma banda relevante para o cenário brasileiro. O que acontece é isto: uma troca. Influenciamos muita gente que nos influenciou de volta. E a gente está aqui, como você disse, após passagem de gerações, 21 anos depois.

CM - Um dos primeiros discos que eu ganhei, ainda na infância, em um Natal, foi o Cabeça Dinossauro.

CG - É, eu imagino (risos). É bastante curioso pensar que tem gente que vai ao show, hoje, e que estava nascendo, ou tinha 4, 5 anos, quando este disco foi lançado. A gente se relaciona bem com isso, são 21 anos! A gente espera este tipo de coisa!

CM - Vocês têm um compromisso com a atualidade. Com o "parecer atual". Talvez isso determine o fato de vocês estarem mandando o recado há tanto tempo, e até agora. Como ocorre isso?

CG - Eu não acho que seja exclusividade nossa. Nós nos mantermos informados, antenados e atualizados, é uma questão de troca de informações. Nós compramos muitas coisas novas; ficamos atentos às coisas boas que saem, às bandas que acontecem, que são lançadas, ao tipo de música que vai aparecendo em cada cenário. Eu, por exemplo, sou um cara que gosta de qualquer coisa. Eu ouço de tudo, de tudo o que você pode imaginar. Eu não tenho nenhuma restrição a qualquer estilo, cada vez mais. E olha que, no passado, eu já tive.

Eu gosto tanto do disco do Marcelo D2, quanto do Gotham Project, que é um projeto de música eletrônica. Acho o White Stripes uma banda razoável. Eu não acho tudo isso que falam. Vi o show recentemente e gostei mais do disco do que da própria apresentação. Gosto muito da Beth Gibbons. Adoro o disco dela e gostava muito da banda que ela tinha, o Portishead. Ao mesmo, eu nunca deixei de ouvir Sepultura! Sempre fui fã dos caras, desde o primeiro disco até o mais recente. Nós, então, vivemos nesse tipo de "salada". Acho que é esta a questão por trás desse "estar antenado".

CM - Por falar em Sepultura, você gravaram, com a produção do americano Jack Endino, em 93, um disco mais pesado, o Titanomaquia. Aquele tipo de referência ainda habita as idéias da banda?

CG - Habita, sem dúvida. Temos alguns momentos no álbum novo que têm um pouco a ver com aquilo. Veja, por exemplo, a faixa Vou Duvidar, música do Paulo e do Sérgio. Tem um componente "Titanomaquia" nesta faixa. São características que a gente nunca vai perder. Simplesmente acontece, sendo o processo de realização de um disco algo totalmente imprevisível - as coisas vão ocorrendo naturalmente -, de investirmos muito em uma determinada característica e não exatamente em outra. Isto ocorre em alguns momentos.

Em outros discos, por exemplo, equilibramos mais uma coisa ou outra. Eu acho que essas características nunca vamos perder. De Titanomaquia à música Sonífera Ilha. Isso fez parte da formação da banda, entende? São informações intrinsecamente contidas quando compomos. O que acontece, muitas vezes também, no estúdio principalmente, é ver uma canção adquirir vida tão própria, depois que a fizemos, que esta passa a pedir um tipo de solução musical que escapa do nosso controle!

CM - O que a banda perde exatamente com a saída do Nando Reis? Ele é um cara que compõe bastante, e com bastante lirismo. Vai embora com ele aspectos importantes do "RG" musical da banda?

CG - A gente, simplesmente, perde as músicas que o Nando compõe. Porque as músicas que ele compunha e cantava dentro do grupo faziam parte do nosso show e do nosso repertório. E, agora, ele vai cantar as músicas dele sozinho, com essas características que você notou. A gente passa a ter uma pessoa, que, sim, era importante, fora da banda. O que podemos fazer? Mas essa é uma questão que cabe mais a ele, já que foi uma escolha dele, não nossa. Assim como aconteceu com o Arnaldo.

Mas, enfim, nós temos músicas com o Arnaldo até hoje. Há certas coisas que o Arnaldo faz que poderiam, tranqüilamente, fazer parte do repertório dos Titãs. Só que ele queria cuidar da vida dele. Queria mais privacidade, queria mais controle, por isso ele saiu. Acho que o caso do Nando é parecido. Ele queria ter mais controle sobre as coisas que vinha fazendo, trabalhando, compondo. Perdemos um cara importante, fundador da banda, mas, tudo bem, a vida continua. Vai continuar mesmo, com certeza. Aliás, temos uma capacidade de regeneração até assustadora. Basta observar-nos antes e depois da saída, da perda, de uma pessoa, é algo assustador. Nós nos regeneramos com muita facilidade. Recompomo-nos e recomeçamos a fazer a vida muito rapidamente.